sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Bufonaria eleitoral expõe ridículo da política

Dia desses assisti à propaganda eleitoral, e ali estava o pessoal de sempre, os mesmos políticos profissionais, as mesmas caras, o mesmo caô. Na televisão agem como ventríloquos, repetindo um discurso afetado e mentiroso. Ridícula a forma como a política se oferece na propaganda da televisão. Modelo desgastado, discurso vazio, insano de tão mecânico, estéril e deprimente.


A classe política fluminense está velha e decadente. Chafurda, e mal. Os deputados federais da bancada do Rio, mafiosos, estão ficando velhos e cansados. Mas não cansados a ponto de largarem o osso, os parasitas, mesmo apodrecendo pela radioatividade da mentira e a pilantragem em que metem as mãos, todos os dias, continuam a nos apresentar suas carrancas, esmerdalhadas pelo lado escuro da força. Os caras se elegem para negociar mais do alto as comissões das obras superfaturadas, os favorecimentos, todo tipo de bandalha e corrupção. Disputam um papel privilegiado de intermediários, pois o que de melhor sabem fazer é intermediar e ganhar em cima. Fazer o meio de campo, entre recursos, pessoas, empresas, decisões governamentais, composições e articulações. Sedentos por dinheiro e influência.

Qual é a técnica política, isto é, que jogo eles jogam? É o jogo da esperteza, de tirar sempre o melhor das situações, por mais indigno que possa ser isso. Não se comprometer com o que pode dar errado, por mais importante e valiosa que seja a causa. Focar em sua própria ascensão, acelerar o carreirismo rumo ao status da celebridade, como muitos homens e mulheres públicos experimentam. Os caciques dos partidos são uns gangsteres tocadores de obra, enfiados em seus ternos reluzentes, com gravatas de inquietar o Sobel. Coronéis reproduzidos ao longo dessas terras vastas para a demagogia profissional aplicada aos negócios.

Na propaganda televisiva eles aparecem com chapeuzinhos de operário, inaugurando as obras que apresentam como suas. Como se os impostos e o Estado fossem de mentirinha, e a caracterização deles como estadistas e modelos de ser humano fosse de verdade. O desfile de imagens, as crianças multicoloridas sorrindo, com a boca cheia de comida, e as palavras Emprego, Saúde, Educação e Segurança ecoando sordidamente.

No caso de deputados e vereadores, boa parte dos votos vem da base fiel de eleitores, favorecidos de alguma forma em seus mandatos, como os militares que votam no deputado que batalha no legislativo pela classe, ou os vascaínos que elegem um dirigente do clube, e daí por diante. Mesmo assim, não nos poupam do espetáculo de falsificação e mentira da propaganda eleitoral. Bufões maliciosos, manipuladores da mentira e da falsa esperança.

Os políticos jovens e aspirantes são responsáveis pelos momentos mais caricatos da campanha, e produzem nesta Tribuna uma mistura de enjoo com vontade de rir, tipo uma náusea ridícula. Rostos vincados pela soberba, pelo desejo de entrar na máfia organizada da política local. A propaganda deles faz brilhar a pujança da roubalheira, dos salões que eles frequentam e dos que fazem de tudo para frequentar.

Os caras se elegem, e a conta das campanhas milionárias vai ser paga com os esquemas fraudulentos fartamente descritos pela imprensa. A máquina da corrupção e da ineficiência segue em funcionamento, trazendo prejuízo incalculável para o país, enquanto fortunas são gastas nesses programas ridículos que apresentam os políticos como heróis.

4 comentários:

Unknown disse...

Pedro, a tribuna 2010 está que tá.
O tom de revolta em nenhum momento
obscurece a explicação minuciosa da lógica da corrupção escancarada. Está ai! Está escancarado! Aquilo que, introspectivamente, penso: "ah, foda-se, tô de saco cheio dessa piadinha esquizofrênica de novo", você coloca em imagens cristalinas. Parabéns.
Não sei exatamente como efervescer e alimentar a discussão com propriedade, sem apelar para longas e, talvez, cansativas citações.
De qualquer forma, arrisco sintetizá-las em duas perguntas que me parecem tocar em um ponto fundamental no jogo de fantasia pelo qual a ordem política prospera:
1 - Quem confia ser possível uma gerência diferente do "aparelho de estado" sem apelar para os técnicos e especialistas familiarizados com o mesmo, e que, no final das contas, só confirmam que as coisas têm que ser do jeito burocrático, lento, kafkiano que sempre foram?
2- Como pode essa desconfiança ser uma coisa partilhada entre o intelectual mais esclarecido e o sertanejo mais obscuro?

É isso. Esperando novas tribunas, e mais uma vez, parabenizando os dois excelentes textos.

Tonho disse...

A bufonaria já começa pelo nome de alguns candidatos e, pásmem, de alguns dos eleitos!

Abs

michel disse...

Pedro, parabéns pela iniciativa. Falar de política me parece cada vez mais inevitável (e olha que eu sempre tentei me esquivar como pude).
Depois de já uns bons 5 anos de serviço público, sinto que o Estado brasileiro destrói os seus componentes por dentro. E cada vez menos consigo aceitar o é tudo um bando de filho da puta.
A inoperância, o desserviço são as marcas em todos os níveis de contato real com a sociedade civil. Nós, os avantajados, só lidamos com isso frente a aspectos sociais no limite dos quais o nosso dinheiro não pode dar conta e ficamos revoltados. As pessoas pobres desse país, e quanto mais o presidente mente sobre isso mais ele perde o meu coração, lidam com isso na escola, no hospital, indo pro trabalho. Um interminável labirinto de incompetência para e pelo qual estão educados e anestesiados.

Vanessa disse...

Mas e quanto ao Plínio? Como a Tribuna se posiciona diante de quem propoe a mudança efetiva da reforma agraria e do regime escravo de 8h de jornada de trabalho?