quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Tribuna reanima com efervescência eleitoral

Desde 2008 não se escreve uma linha na Tribuna. Crítica incansável da subordinação da política ao jogo eleitoral, no agravamento de sua espetacularização, a Tribuna efervesce quando a campanha ganha a mídia, e revive. Em seus primeiros e esparsos anos de existência, refletia pesquisa sobre as metamorfoses sofridas pela política em seu esforço de comunicação com as massas, emprendida por um de seus principais articulistas. Certo tom academicista permeou as análises empreendidas àquela altura, em que a Tribuna acompanhou com interesse a maculação do partido ainda “intocado pela realidade política”, ainda não corrompido pelas estruturas do poder, como se acreditava. Partido que detinha o monopólio do discurso ético, que muita gente acreditava que ia transformar a política brasileira se chegasse ao poder. Talvez essas pessoas estivessem desatentas à guinada rumo ao pragmatismo orientado a resultados a que o partido vinha se alinhando, mesmo antes da vitória de seu maior expoente.

Ao chegar à presidência, este partido adaptou-se às regras da política de gente grande, e não sem o esperneio de parte de seus quadros. Primeiro a política de alianças, o rendimento ao tradicional presidencialismo de coalizão, errático, fisiológico, mais que imperfeito. A Tribuna publicou artigos, no período, chamando a atenção para o contraste entre o universo fantasioso do discurso eleitoral, voltado para a coletividade e o interesse público, e a prática viciada na sua auto-reprodução e no favorecimento privado e individual.

Depois vieram as crises de corrupção. E o partido tornou-se mais um, como os demais. Ouvimos falar em desilusão com as bandeiras políticas, em morte das ideologias. Aparentemente a política ficou mais impessoal, mecanizada em seu funcionamento de cartas marcadas, nas regras que formatam o seu modus operandi. A Tribuna registrou a constatação de que todos os agentes políticos praticam um mesmo e comum pragmatismo eleitoral, e que as bandeiras que dão nome aos partidos são esvaziadas de significados, funcionando apenas como legendas de abrigo a grupos ligados a organismos específicos, que através do mandato tentam ter maior influência na tomada de decisões de seu interesse.

Quando a proposta de uma nova prática política parecia relegada ao campo da utopia, e a esperança se esvaziava diante da realidade da prática política, a potência carismática de Lula deu um choque de personalização na indiferente composição partidária. O baixo astral causado pela adaptação do PT ao jogo político tradicional, e pelos escândalos de corrupção que comprometeram algumas de suas principais lideranças, deu lugar à euforia em torno do presidente e de sua capacidade de transferência de votos. Da descrença com o PT ao frenesi em torno da candidata Dilma.

O contexto de renascimento da Tribuna, portanto, vai da desilusão com o governo petista até a divinização da personalidade de Lula. As reflexões que aqui se farão pretendem abrir novos espaços para a expressão política, críticas do modelo falido da autopromoção importado com distorções do marketing comercial. Não estaremos embasados em nenhuma epistemologia, corrente acadêmica, comprometimento partidário ou ideologia prévia, mas guiados pela liberdade do pensamento.  

Em fase niilista, a Tribuna entende que a política, em seus moldes tradicionais, está fadada à ruína, e pretende acabar de demolir suas estruturas.
Todos estão convidados a participar deste meio de expressão do livre pensamento político.

2 comentários:

Unknown disse...

Tenho um sentimento bem parecido. Hoje eu diria que sou um anarquista por utopia...

Eduardo Viana disse...

Pedro,

Quando surgiu o escândalo do mensalão, as reações foram do aceitamento - "é preciso colocar a mão na merda" - à revolta - com a desfiliação de militantes e a criação de um novo partido, o PSOL. Mas a pior reação de todas é a viagem ao niilismo, a descrença que leva à desarticulação, consequentemente à alienação política. Esta reação advém de alguns equívocos que eu vou pinçar do seu próprio texto:

1) "Partido que detinha o monopólio do discurso ético". Esta é uma bobagem que o PT vendia aos militantes: "só nós prestamos, o resto é lixo". Sempre haverá pessoas éticas e não éticas em muitos partidos, à esquerda e à direita. Se as pessoas tivessem esta noção, não ficariam tão desmobilizadas assim, não se sentiriam tão traídas. O estrago que o PT fez ao deixar órfãos seus eleitores é tremendo: de um lado, há pessoas que não acreditam mais em nada; de outro, há quem acredite que o partido

2) "adaptou-se às regras da política de gente grande". Ou seja, que política é assim mesmo. Não é. Política é o que a gente faz. Quando vai a passeata, quando manda email pro gabinete do deputado, quando assina abaixo-assinado, quando vota, quando tenta convencer outras pessoas a votar em alguém, quando discute. Política se faz cotidianamente. Aliança em torno de um projeto é política. Compra de deputado não é política, é comércio. Negócios escusos não podem ser tratados como "política de gente grande". Têm que ser tratados pelo que são: negócios escusos. Daí que

3) nem "todos os agentes políticos praticam um mesmo e comum pragmatismo eleitoral". Pensar assim, com essa descrença toda, é o fim da nossa cidadania política; é entregá-la nas mãos dos negociantes escusos. Se fosse tudo tão simples, não precisava ter eleição. Mas se

4) "a Tribuna entende que a política, em seus moldes tradicionais, está fadada à ruína, e pretende acabar de demolir suas estruturas", ótimo. Só me diz quais são os novos moldes. O que vamos pôr no lugar, depois de demolir as estruturas atuais?

O fato de vc reabrir a Tribuna já é um indício de descontentamento e vontade de mudar. Só falta acreditar em alguma coisa, porque, sem acreditar em algo, não se muda nada.