sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Estamos juntos

Acabamos de assistir ao debate da Folha dos candidatos ao governo do estado, transmitido pela Rede TV! Não é uma experiência das mais agradáveis ver o governador jantar confortavelmente seus três adversários.

Não tem para ninguém, e dois argumentos principais sustentarão esta opinião. O primeiro e mais significativo é que parece existir uma lei natural, ou espiritual, que enuncia que o discurso positivo sempre vence o negativo. Fique claro que não se trata de bem e mal, porque o discurso positivo pode estar representando o mal, e o negativo defendendo o bem. Mas quando observamos o governador defender os avanços e melhorias de seu governo – não ousamos entrar no mérito desta avaliação, pois não acompanhamos os lances comezinhos da política –, e os demais candidatos concentrados em apontar os defeitos, em dizer que está tudo uma merda, não é difícil experimentar o que a ampla maioria do eleitorado deve sentir para estar ajudando a reelegê-lo no primeiro turno. O cara faz o discurso pró-ativo, focado nas próprias realizações, não perde tempo batendo em ninguém. Porque a estrela está mesmo com ele, gostando-se ou não. Ele enche o peito e fala à vontade da “amizade” com o presidente, da proximidade com a Dilma, e repete quantas vezes puder que essa relação estreita garante mais recursos para o Rio. O discurso popular, que o povo gosta de ouvir. A campanha milionária, repleta de nomes de peso do samba e da MPB, faz a trilha para as imagens do povão risonho, sob o slogan “Estamos juntos”, elaborado com astúcia para colar na massa votante. No intervalo, um spot mostrou Lula retribuindo os elogios que recebia no debate: “As UPAs e a pacificação nas favelas foram criação do Sergio, e por isso é fundamental que ele continue”. Com isso tudo na mão, Cabral teria de fazer uma cagada muito grande para perder a reeleição.

O segundo argumento para justificar essa disputa desigual de um homem contra três, com uma vantagem que não se tem lembrança na história política recente do Rio de Janeiro, é o domínio que o governador tem das técnicas de comunicação política. É um orador convincente, seguro, conhecedor de todos os truques do palanque. Malandro nato, como antigamente, como seu pai, um parasita, um achacador. São detalhes simples que podem passar despercebidos, mas que fazem uma diferença crucial, ainda que invisível. Na hora do minuto de agradecimento, enquanto os três se apressavam em descer o cacete em tudo, Cabral sem pressa se dizia admirador do mediador Kennedy Alencar, agradecia aos organizadores, e voltava a listar as supostas conquistas de sua gestão. Preenche milimetricamente seu tempo de fala, com ritmo indo num crescendo e fechando no último segundo com frases de efeito, positivas e pró-ativas. Os outros candidatos não conseguiam se articular dentro do tempo, ou devolviam dezenas de segundos de volta aos adversários. E não tinham muito a fazer a não ser críticas, passando uma imagem negativa para o eleitor menos instruído e mais instintivo, que escolhe seu candidato com base no que entende serem suas qualidades pessoais.

Sabemos todos que o governador é um gangster. Enriqueceu rápido na vida pública, fazendo os piores pactos, com o que há de mais atrasado e mafioso, ascendendo como chefe de uma quadrilha na Alerj, praticando chantagem, extorsão, peculato. Mas infelizmente é um dos políticos mais habilidosos de sua geração, cheio de carisma e dotado de uma capacidade notável de não brigar e acumular aliados, característica importante para sobreviver no cenário político hodierno.

Jefferson Moura (PSOL) é um canastrão, artificial nos cacoetes mimetizados dos mesmos chefões que ele critica. Interpreta canhestramente um estado de indignação, dando a impressão de que sonha em ter o mesmo naipe do governador. Moura é falso, mentiroso e antipático. Sem sucesso na tentativa de dar uma de Plínio, protagonizou o momento mais pitoresco do debate. Criticando a promiscuidade das alianças e a degradação das identidades programáticas, pediu a Cabral para enumerar os 16 partidos de sua coligação. Na resposta, o governador ignorou o pedido e disse que a coalizão era sinal da boa aceitação que tinha entre os partidos. Ao tomar de novo a palavra, Moura denunciou com uma revolta afetada: “o governador não sabe quais são os partidos que o apoiam! Não respondeu a minha pergunta!”. E Cabral, respondendo, arrancou risos da plateia dizendo que achou que Moura, em sua réplica, afinal enumeraria os tais 16 partidos.

O inexpressivo candidato Peregrino não merece o gasto da nossa pena. Dele a Tribuna teve o trabalho de anotar uma pérola, que dividimos com o leitor em primeira mão: “O casal Garotinho tem ideias que podem construir a felicidade do nosso povo”.

E Gabeira, candidato apoiado pela Tribuna, não tem mesmo vocação para a disputa pelo poder executivo. Repete sempre as mesmas coisas, naquele jeitão meio sequelado... Estamos fodidos.

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