terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sobre o debate da Folha com os presidenciáveis

É ingênuo acreditar que o debate da televisão é espaço de discussão de propostas, como se diz. Debate não é lugar para fazer proposta de governo, porque proposta de governo não se faz em um minuto, com réplica e tréplica, e porque sempre recai na simplificação demagógica do discurso eleitoreiro. Como se pode discutir propostas dentro da veloz e entrecortada lógica televisiva?

O debate serve para a observação, além do traquejo e da capacidade oratória dos candidatos, do sangue-frio e do jogo de cintura tão necessários a um chefe de governo.

O debate promovido pela Folha e transmitido domingo na Rede TV! foi intenso na troca de acusações entre os dois principais candidatos, que quebraram o pau, remoendo a pendenga entre petistas e tucanos. Serra lembrou o novo caso envolvendo Erenice Guerra, ministra da casa civil e cria política da Dilma, por permitir o tráfico de influência de seu filho dentro do governo, reclamou da quebra ilegal de sigilo da sua filha, lembrou do caso dos “aloprados” e disse que a casa civil era um foco de corrupção no governo petista, associando a Dilma ao Zé Dirceu.

Serra, o mais experiente em campanhas, tem a manha de gerir seus tempos de fala, indo sempre até o final, sem desperdiçar um segundo, diferente de Marina e Plínio, que algumas vezes deixaram buracos em suas falas, devolvendo a palavra aos adversários. Em muitos momentos mostrou certo desespero ao ficar revisitando o noticiário dos escândalos no governo, que se estivesse lendo manchetes, tentando impressionar os eleitores mais anti-petistas.

A Dilma nos debates é totalmente artificial. Ainda fica muito nervosa, se embola com as palavras, gagueja. Ainda não tem muita intimidade com os palanques, mas já vai pegar o jeito da coisa, porque está com toda cara de que vai ganhar a eleição.

Plínio é espirituoso porque não tem nada a perder, trabalha para garantir o espaço do seu partido, seus deputados e outras lideranças que defendem teorias marxistas para salvar o Brasil. O deboche do Plínio quebra a artificialidade da petista e do tucano, servindo para acordar a audiência quando está prestes a adormecer. 

Mas se o radical calasse, a audiência adormecida poderia ter um pesadelo coletivo, em que uma Dilma bruta e desfigurada capitanearia um stalinismo tecnocrático, associado ao controle do núcleo duro do partido, substituindo a utopia ineficiente dos discursos contra o sistema dos tempos de militância, pelo mergulho profundo no exercício do aparelhamento estatal e no pragmatismo da guerrilha burocrática da política. Ela seria um monstro mecânico, construído com aço subsidiado da Gerdau, com tecnologia de águas profundas da Petrobras, financiado pelo Banco do Brasil, a mando de Lula.

Em nenhum momento, entretanto, Plínio conseguiu desestabilizar os candidatos, que ficavam risonhos e aliviados quando o velho comunista intercedia com seus gracejos.

Marina Silva, apesar de seu discurso politicamente correto, não parece estar tendo muito êxito na sua estratégia paz e amor. Deixou o arsenal crítico e a radicalidade de esquerda para o Plínio e adotou uma espécie de neutralidade zen. Parece estar pavimentando o caminho para ser uma alternativa segura e confiável ao petismo, trabalhando de olho em 2014.

3 comentários:

Pedro Nunes disse...

Antepenultimo paragrafo estah foda Pedro. Nem tenho palavras pra dizer o quanto curti.

PR

Pedro Nunes disse...

Esse pesadelo coletivo eh mais ou menos o clima que eu queria no final do "Mitologia Zona Sul Carioca"...

Pedro Sangirardi disse...

PR,
Vindo de você, me enche de orgulho. Obrigado pela leitura e pelo incentivo!
abração
Pedro